terça-feira, 19 de julho de 2011

Medianeira - Foz Do Iguaçu

Certo, eu estava em Medianeira e agora faltavam apenas 50 quilômetros para chegar em Foz, mas eu não esperava tanta dificuldade para pedalar esta distancia, acontece que acordei com uma leve garoa caindo e quando eu comecei a pedalar caiu uma chuva forte acompanhada por raios e trovões, não teve jeito tive que parar, e esperar que a chuva fizesse o mesmo. Depois do almoço a chuva parou, e eu voltei a pedalar, e a chuva também voltou a cair, e eu novamente parei para chuva novamente parar e eu voltar a pedalar por mais uma vez. Era necessário apenas eu subir na bike para a chuva cair, assim como era necessário apenas descer da bike para a chuva diminuir. Parecia uma brincadeira dos Deuses para me impedir de chegar ao destino final, assim como nos Lusíadas, e talvez fosse mesmo por que logo em seguida meu pneu furou (trocar pneu molhado e cheio de terra é pra quem merece).
Pois bem, fui pingando de posto em posto para me proteger da chuva, mas os deuses pareciam estar determinados a não me deixar chegar em Foz, o dia tava uma merda, parei numa lanchonete e não tinha mesmo o que fazer, pedalar na chuva forte significaria molhar minhas únicas roupas de frio (eu estava usando os dois moletons que levei), e como estava frio, pedi um pastel e fiquei assistindo “procurando Nemo” que passava na TV, desanimado porem conformado, cicloturistas também tem dias ruins durante a viagem.

Porem o dia não havia acabado e foi neste momento que aconteceu algo realmente incrível, olhei para trás, para verificar se não havia ninguém mexendo nas minhas coisas, e quem eu encontro olhando para mim através do vidro com uma cara que misturava espanto e animação?! Demorou um pouco para eu me convencer, identifiquei um ciclista, mas quando fui olhar melhor percebi que eu conhecia muito bem aquele ciclista:

-PHILIP!

Eu não podia acreditar, era ele mesmo, imagino que a cara de espanto que ele viu enquanto me olhava foi maior do que a vista por mim ao olhar para ele...Era mesmo o Philip! Contornei rapidamente o vidro e fui ao seu encontro para lê dar um abraço.

Philip é um cicloturista mineiro que conheci quando subia de São Paulo para Porto Seguro de bike, o que eu já considerava uma grande coincidência, pois nos encontramos numa rota pouco provável para o encontro casual de cicloturistas (tínhamos abandonado as estradas e subíamos o nordeste pelas praias desertas de areia fofa, tendo que atravessar rios, e falésias). Lá na Bahia nos conhecemos e nos tornamos amigos subindo para Porto Seguro, juntos com mais dois camaradas.

Havíamos nos encontrado no nordeste e agora nos encontrávamos novamente no sul do país. O Philip vinha pedalando pela chuva, embrulhado em um saco de lixo na tentativa de se impermeabilizar, ao menos parcialmente, e precisou parar para pedir uma sacola plástica para embrulhar as suas coisas, e por algum motivo incrível foi na lanchonete que eu estava que ele resolveu parar para pedir a sua sacola.

Sentamos a mesa e conversamos os dois, extremamente surpresos com a incrível coincidência, eu estava indo para o sentido oposto ao dele, mas o Philip decidiu seguir viagem apenas no dia seguinte e me chamou para passar a noite no mesmo local em que ele tinha ficado enquanto esteve em Foz.






Realmente incrível...Posso dizer que não sei sobre a existência de Deuses ou sobre o funcionamento do universo, mas de fato, não posso deixar de afirmar: Sair de casa é permitir que o acaso interfira sobre sua vida, é dar chance a um destino inimaginável.

Guaraniaçu – Medianeira

O caminhoneiro na saída de Curitiba estava certo ao dizer que eu só veria reta depois de Cascavel, ficou bem mais fácil pedalar depois de passar por lá e apesar da parada durante à tarde para esperar a chuva passar, as boas condições para o pedal me possibilitaram avançar 160 quilômetros com tranqüilidade. Sim, teve mais um pneu furado, e mais remendo na câmara que já não tem mais espaço para tanto remendo, mas cheguei em Medianeira.

Por aqui o fluxo de carros é grande, provavelmente turistas atrás das cataratas, da usina de Itaipu, e das mercadorias paraguaias. Amanha devo chegar em Foz e também vou atrás de tudo isso, hoje eu durmo no átrio de uma igreja, e amanha vou embora bem cedo para não ser apedrejado pelos fieis.

Cantagalo – Guaraniaçu

Sai da casa do seu Ciro pela manhã, e tive que remendar a câmara de ar por duas vezes no caminho, meus pneus estavam carecas e não eram de qualidade, por este motivo trocar pneu estava se tornando um habito diário, quando cheguei em Guaraniaçu pedi um PF, que não foi suficiente para matar a minha fome, acho que o seu Ciro me deixou mal acostumado, então pedi um espetinho como complemento da janta.

Dessa vez eu não consegui um bom lugar pra dormir, tive que improvisar uma cama com uma poltrona de caminhão que tava largada num canto, um banco e uma tábua. Sem reclamações, foi o necessário para um ciclista cansado dormir.

Auto da Pedra - Cantagalo

Antes de me despedir de Auto da Pedra foi preciso trocar o pneu. pneu trocado cheguei a Prudentópolis onde passei a noite numa sala de depósito de um posto cheia de pastas e fichários.
Dormi bem, mas acordei enxergando meio estranho e acabei tomando um susto quando me olhei no espelho, meus olhos estavam super inchados, arrumei a bagagem meio preocupado e sai logo cedo, subi um morro enorme, apesar de ter sido cansativo a vista la de cima compensava. quando cheguei no alto já nem me lembrava mais dos meus olhos, que já estavam melhorando.



Quando já estava escurecendo cheguei em Cantagalo, a dificuldade estava sendo achar um lugar para comer, passei por paradas de ônibus onde a comida era cara demais, e por lanchonetes fechadas, até que cheguei em uma lanchonete onde o seu Ciro me disse que a comida ia demorar pra sair porque eles tinham acabado de abrir:
-Demorar quanto?
-30 minutos!
-ah, entao eu espero.

Eu bem que tentei, mas nao consegui terminar a janta, sempre achei uma deselegância grande deixar no prato a comida que pessoas tiveram trabalho pra fazer, neste dia eu não havia comido absolutamente nada e estava preparado para causar prejuizo em qualquer "boca-livre", só que quando o seu Ciro começou a trazer as travessas eu pensei, "essa comida toda é só para mim?!". Eram 7 travessas cheias de comida que ocupavam metade da mesa em que eu estava, e quando eu conseguia acabar com uma travessa me perguntavam se eu queria que enchesse a travessa novamente, e quando eu tava na metade da refeição me trouxeram um prato cheio de macarrão caseiro. Putz, assim não da, comi bem devagar tentando achar espaço para toda aquela comida, mas realmente não foi possível acabar com tudo, quando seu Ciro chegou me perguntando se queria que trouxesse algo mais, respondi a ele que não aguentava mais nada, ele abriu um sorriso largo, como se tivesse atingido seu objetivo.
Seu Ciro enquanto recolhia a mesa me disse que eu poderia dormir na casa dele, que ficava nos fundos da lanchonete, e tomar café da manhã com eles pela manhã.



Foi o que fiz, dormi em um quarto que arrumaram só para mim, e tomei café da manhã com a familia do seu Ciro, antes de agradecer por tudo o que fizeram por mim e me despedir.

Curitiba - Auto da Pedra



Após uma volta noturna pela cidade de Curitiba, comprei uma pizza média gostosa demais, e pedalei até um posto de gasolina na saída da cidade onde a ficha para tomar banho custava 2,00 R$, mas acabaram me dando uma ficha de graça, aí foi colocar a ficha para a água cair por exatos 7 minutos.

Dormi tranqüilo e pela manhã, antes de partir, conversei com um carreteiro que me disse que a estrada que eu ia pegar era complicada, que eu só ia ver reta depois de Cascavel, no mapa Cascavel ficava próximo a Foz, ou seja, pegaria ladeiro praticamente o caminho todo.

De fato, cheguei em Alto da Pedra por uma estrada onde os quilômetros pareciam ser maiores do que o normal devido a grande quantidade de ladeiras e o vento forte. Almojantei um PF de 5,00 R$, muito bem servido, em quanto assistia o jornal local na tela de plasma da lanchonete, parecia que eu tava assistindo globo rural, as noticias eram na maior parte, referentes à paisagem agrícola pela qual eu tinha acabado de passar, na estrada pedalei pela pequena cidade de Palmeira, e passei por colônias alemãs, mas o que mais vi foram fazendas muito bonitas, por serem bem arborizadas, isto resume a paisagem do interior do Paraná.




.? a Curitiba - 06/07/2010 - 20:35 h - Terça

Estou em Curitiba!
Após pedalar, subidas intermináveis e contra o vento chego a capital do Paraná, e de uma lan house aqui de Curitiba que escrevo agora.
Hoje foi bastante cansativo, e ainda contei com um pneu furado, pretendia chegar na hora do almoço e acabei chegando no fim da tarde.






Eu esperava encontrar uma cidade linda, com casas grandes, e jardins, mas Curitiba não é tão diferente da maioria das grandes cidades do país. Por aqui tem muitos ônibus tri articulados, e ciclovias, o transito não é horrível como no Rio ou em São Paulo, mas aparte isto nada de diferente.
Fui conhecer a tal da estufa, gostei bastante do jardim botânico, muito bonito!

Miracatu a... ? - 06/07/2010 - Terça - 8:49 h

Foi o dia mais difícil até aqui, mas também foi o que proporcionou as mais belas imagens, pedalei o dia todo subindo morros, no espírito "devagar e sempre", para quem esperava chegar a Curitiba antes de anoitecer, o dia poderia ser considerado uma decepção, mas ao contrário disso, foi o melhor dia até agora, parei por diversas vezes para tirar fotos do horizonte, a estrada era muito linda, e só agora eu estava me sentindo longe de casa.









Novamente eu tive que fazer uma parada forçada pelo anoitecer, não faço idéia do nome do vilarejo onde estou, seria um lugar tranquilo se não fosse pelos cachorros que não param de latir.