Certo, eu estava em Medianeira e agora faltavam apenas 50 quilômetros para chegar em Foz, mas eu não esperava tanta dificuldade para pedalar esta distancia, acontece que acordei com uma leve garoa caindo e quando eu comecei a pedalar caiu uma chuva forte acompanhada por raios e trovões, não teve jeito tive que parar, e esperar que a chuva fizesse o mesmo. Depois do almoço a chuva parou, e eu voltei a pedalar, e a chuva também voltou a cair, e eu novamente parei para chuva novamente parar e eu voltar a pedalar por mais uma vez. Era necessário apenas eu subir na bike para a chuva cair, assim como era necessário apenas descer da bike para a chuva diminuir. Parecia uma brincadeira dos Deuses para me impedir de chegar ao destino final, assim como nos Lusíadas, e talvez fosse mesmo por que logo em seguida meu pneu furou (trocar pneu molhado e cheio de terra é pra quem merece).
Pois bem, fui pingando de posto em posto para me proteger da chuva, mas os deuses pareciam estar determinados a não me deixar chegar em Foz, o dia tava uma merda, parei numa lanchonete e não tinha mesmo o que fazer, pedalar na chuva forte significaria molhar minhas únicas roupas de frio (eu estava usando os dois moletons que levei), e como estava frio, pedi um pastel e fiquei assistindo “procurando Nemo” que passava na TV, desanimado porem conformado, cicloturistas também tem dias ruins durante a viagem.
Porem o dia não havia acabado e foi neste momento que aconteceu algo realmente incrível, olhei para trás, para verificar se não havia ninguém mexendo nas minhas coisas, e quem eu encontro olhando para mim através do vidro com uma cara que misturava espanto e animação?! Demorou um pouco para eu me convencer, identifiquei um ciclista, mas quando fui olhar melhor percebi que eu conhecia muito bem aquele ciclista:
-PHILIP!
Eu não podia acreditar, era ele mesmo, imagino que a cara de espanto que ele viu enquanto me olhava foi maior do que a vista por mim ao olhar para ele...Era mesmo o Philip! Contornei rapidamente o vidro e fui ao seu encontro para lê dar um abraço.
Philip é um cicloturista mineiro que conheci quando subia de São Paulo para Porto Seguro de bike, o que eu já considerava uma grande coincidência, pois nos encontramos numa rota pouco provável para o encontro casual de cicloturistas (tínhamos abandonado as estradas e subíamos o nordeste pelas praias desertas de areia fofa, tendo que atravessar rios, e falésias). Lá na Bahia nos conhecemos e nos tornamos amigos subindo para Porto Seguro, juntos com mais dois camaradas.
Havíamos nos encontrado no nordeste e agora nos encontrávamos novamente no sul do país. O Philip vinha pedalando pela chuva, embrulhado em um saco de lixo na tentativa de se impermeabilizar, ao menos parcialmente, e precisou parar para pedir uma sacola plástica para embrulhar as suas coisas, e por algum motivo incrível foi na lanchonete que eu estava que ele resolveu parar para pedir a sua sacola.
Sentamos a mesa e conversamos os dois, extremamente surpresos com a incrível coincidência, eu estava indo para o sentido oposto ao dele, mas o Philip decidiu seguir viagem apenas no dia seguinte e me chamou para passar a noite no mesmo local em que ele tinha ficado enquanto esteve em Foz.
Realmente incrível...Posso dizer que não sei sobre a existência de Deuses ou sobre o funcionamento do universo, mas de fato, não posso deixar de afirmar: Sair de casa é permitir que o acaso interfira sobre sua vida, é dar chance a um destino inimaginável.
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